O trem. Se você é um fudido como eu, provavelmente deve usar essa maravilha de transporte público. Mas acredite, só usa o trem quem não tem outra opção.
Eu fico puto quando ouço as pessoas reclamarem do trânsito que pegam para voltar para casa. Pois bem, seu mal agradecido do caralho, você reclama que está parado no trânsito, mas está no conforto do seu carro, ouvindo música, com um ar-condicionado e até mesmo um dvd player se for mais chique, e não numa caixa de metal que passou o dia no sol esquentando com pessoas suadas, fedidas e grudentas.
Me perguntavam porque eu não tomava banho no trabalho para ir à faculdade. Para quê? Eu ia pegar o trem das seis, em horário de pico, lotado de pessoas voltando do trabalho, fedidas, algumas usando desodorante barato para disfarçar o cheiro, suando como porcos no calor infernal do vagão, no mínimo, se conseguisse sair com vida do vagão, iria sair com uns dez cheiros diferentes no meu corpo.
O trem é frequentado pelos mais diversos tipos, como:
Tarados: depois dos trombadinhas, ele é o cara mais sem vergonha que pega o trem. Ninguém está a salvo, mulheres casadas, velhinhas, ninfetinhas colegiais, dondocas, pastores evangélicos. Às vezes ele é pego e acaba levando um cacete.
Vendedores: eles vendem de tudo, amendoins, antenas, cortadores de unha, receitas de liquidificador, tabuada, paçoca, suflair genérico e o que mais tiver sido roubado de algum caminhão. Quando menos se espera, após fechar a porta do vagão em alguma estação, começam a falar coisas como "Amendoim... cocrante... amendoim"; "Olha a nova tabuada atualizada... na minha mão é só um reau!"; "Caneta pra marcá cedê e devedê só um reau!" e "Brama, cóca, água, brama zero grau".
Bêbados: esse nunca sabe que trem pegou, nem pra onde vai. Apenas fica ali no vagão, como uma pedra sanitária "perfumando" o ambiente com seu cheiro azedo de cachaça e vômito, contando histórias, falando merda ou simplesmente dormindo.
DJ's: surgiram há pouco tempo, graças à inclusão digital para pobres, que compram um celular com mp3 nas casas Bahia ou um MP9, 10, 15... na Santa Efigênia e ficam tocando o créu em loop, incomodando a todos que pegam o trem. Claro que nunca se mancam que estão incomodando.
Pedintes: entram no vagão carregando uma criança remelenta com a mesma história manjada desde a peste negra:
"Boa tarde senhores passageiros gostaria de pedir um minutinho da sua atenção mas é que estou passando por uma situação difícil, sofro de Aids, lepra, doença de chagas e furuncu, estou desempregado e não tenho dinheiro pra comprar remédio, meu filho está com tumor, minha filha está grávida, minha mulher fugiu de casa e não posso comprar nem o leite do fio pequeno aqui, aqueles que puderem ajudar agradeço, qualquer moedinha que não for fazer falta, pode ser até um biscoitinho e aqueles que não puderem agradeço mesmo assim e que deus abençoe..."
Surdos: tentam vender adesivos do Bob Esponja e da Hello Kitty ou canetas com a desculpa de que são surdo-mudos.
Repentistas: Vão pelos vagões fazendo rimas idiotas e sacaneando os passageiros. E ainda pedem dinheiro por isso.
Velhos: não sei pra que porra velhos tem que sair de casa, mas insistem em pegar um trem lotado, e quando ninguém dá lugar, reclamam dos direitos e tentam pegar um assento que não seja reservado, apelando para o discurso "quando ficar velho vai querer que lhe deem o lugar". E não adianta tentar ser educado ou gentil, já tomei cotovelada de velha brigando por lugar.
Pregadores: os mais odiados. Entram no vagão na surdina, totalmente ninjas, e quando as portas se fecham você tem uma igreja sobre trilhos. Discursos preconceituosos como "Eu era drogado, bêbado, gay e viado, mas Jesuis me curou! Glóra! Glória!" e cantoria para uma lavagem cerebral completa. Engraçado que ninguém fala nada.
Se eu sair no vagão gritando "Satanás é meu senhor!" com certeza vão querer me dar porrada. Mas é como disse uma vez para uma pregadora "Jesus te ama, mas ninguém te come!"
Às vezes penso que quando eu morrer irei para um grande trem do inferno, onde sofrerei eternamente tendo que pegá-lo todos os dias... Oh, meu deus! Acho que morri!
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