sábado, 4 de dezembro de 2010

Saúde pública, House genérico e monocelhas

Saúde Pública: pague para não usar, reze para sair vivo.

Já tiveram que apelar como último recurso para a saúde publica? Espero que não.

Infelizmente eu tive. Cheguei ao fundo do poço e tive que recorrer ao terrível SUS. Da última vez que precisei dele foi na campanha de vacinação, quando uma enfermeira que parecia um traveco esfregou um tufo de algodão seco no meu braço antes de aplicar a injeção e depois me deu o tufo de recordação.

Após um mês de espera finalmente chegou meu dia. Consulta às 7 da manhã. Pensei: "vou ir mais cedo, que assim não pego fila". Pfff! Inocência a minha. Cheguei lá 6:30 e já estava uma fila gigantesca. Isso por que eu tinha marcado hora.

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Na entrada uma tiazona, dessas que dão informação, cantava em alto e bom som Glória Glória Aleluia. Nada como começar bem o dia.

Fui falar com a recepcionista e não pude deixar de notar que ela era um misto de anão com criança monocelha.

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Ela me manda sentar e esperar. A sala de espera parecia um campo de refugiados de guerra.

Se até então você não estiver doente, com certeza vai ficar. Eles colocam todos numa sala, não importa o que você tenha. Então fiquei ali, com velhos tossindo e cuspindo, pessoas bêbadas vomitando, bandidos que participaram de troca de tiros, freiras rezando pelos que não tem mais chance de cura, crianças chorando, gravidas parindo, pessoas com membros amputados, um inferno.

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Enquanto o caos reinava, tentei ignorar tudo a minha volta e me focar na TV, sem som, que exibia um VHS (isso mesmo, uma maldita fita de vídeo) em loop eterno com uma "repórter" de 200 kg entrevistando o ex-prefeito da cidade.

Nisso a anã monocelha me manda pra outra fila, dessa vez na porta da sala onde seria atendido.

Lá pelas 8:30 da manhã o médico chega e era um velho barrigudo, mal humorado, que entra chutando a porta.

E para o meu azar, não importa a hora que chegue ou se tem algo marcado, eles chamam primeiro os idosos. Você deve estar pensando "é o correto, eles são idosos oras". Claro, como se eu não tivesse nada melhor pra fazer do que ficar numa fila cheia de pessoas doentes, que insistem em contar o que tem.

"Ah eu vi ver o doutô porque tô com um furuncu que ta coçando e sai muito pus..."

Ok minha senhora, obrigado por me fazer vomitar o café da manhã.

Sem contar as grávidas. O povo hoje em dia tem TV fácil, então porque tantos filhos minha gente? Meninas, esperem pelo menos completarem 18 anos para saírem abrindo as pernas. Ter filhos com 14 anos pode ser um problema. E se já tiver 18, por favor, não faça escadinha com os remelentos. Espera passar um ano pelo menos entre cada barrigudo.

Então finalmente, as 10 horas sou atendido. Fiquei com medo de entrar na sala, afinal o cara estava pior que todos os doentes da fila.

Eu tava vendo a hora daquele velho morrer ali na mesa. Ele tossia e assoava seu "narizinho" naquele lenço imundo e enfia de volta no bolso do jaleco.

Me senti em um episódio do House, com a diferença que o House é um médico com problemas mas ainda assim é foda e esse médico era um merda doente.

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Eu precisava apenas pegar uma maldita guia e agora corria o risco de sair de lá com uma doença terminal. Como diabos um médico fica doente? É meio irônico, afinal ele sabe o que fazer se ficar doente.

Nisso o cara pede a documentação e ao ver o cartão do SUS começa a soltar os cachorros:

- Porque o cartão não esta plastificado?
- ... Peguei ele recentemente...
- POR ISSO QUE ESSE PAIS É ESSA CORRUPÇÃO TODA! O CARTÃO É PRA MANTER UM CONTROLE E NEM DISSO VOCÊS CUIDAM! POR ISSO TÁ ASSIM! ELES SE APROVEITAM QUE O POBRE É BURRO!

Pérai... FÉLA DA PUTA! Me chamou de burro?

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Poderia sair dali no mesmo minuto e dar queixa na diretoria do local mas... é saúde publica, o máximo que ia conseguir era que rissem de mim. Tive que manter a calma, afinal se eu partisse para a agressividade era perigoso não conseguir guia nenhuma, ou pior, ele podia tossir em mim. Estava numa situação de refém.

- Pois é né... hehehe...
- Quanto é para plastificar?
- Er... não faço ideia, mas pode deixar que hoje mesmo eu plastifico.

Tentei dar meu melhor sorriso amigável.

- Olha só... tá ficando inteligente, muito bem.

Tentei disfarçar, fiz uma contagem mental e tentei não mandá-lo tomar no cu em voz alta.

Finalmente pego a guia e descubro que tenho que pegar outra fila para marcar o exame. Nisso ouço o House comentar com uma funcionária "Ah chega! Trabalhei demais hoje! Chega, vou embora."

Filho da puta! Chega uma hora e meia atrasado, leva uma hora para atender mal 10 pessoas que estavam na fila e vai embora! Cadê o juramento médico? Aquela coisa de salvar vidas e tal?

Na hora de ir embora vejo a tia das informações passando de um lado pro outro cantando "Bate o Sino Pequenino".



Agora é esperar mais alguns meses até o próximo exame.

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