sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Seringas, doenças e Silent Hill

Acordei um dia e estava completamente cego, com os olhos cheios de remela, boca seca, uma crosta verde em volta do meu nariz, tremendo e soltando catarro pela boca como um gato velho que cospe bolas de pelo. Não tinha jeito, iria ter que ir ao médico.

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Para minha sorte (ou não) ainda tinha o convênio da empresa.

Ao menos sei que morreria sentando numa fila e não em pé na fila do hospital público.

Já repararam que as pessoas gostam de recomendar seu médico aos outros? Não sei o que elas ganham. E sempre que recomenda diz:

- Não se esqueça de dizer que você me conhece.

Por quê? Qual é a diferença? "Ah, você conhece o Maneco? Ah, está bem, nesse caso vou te dar um remédio de verdade. Para os outros eu estou dando pastilhas de hortelã."

Eles te mandam pra uma sala de espera. E você fica sentado ali com aquelas revistas velhas. Finge que está lendo, mas na verdade, está olhando para as outras pessoas pensando qual será a doença delas.

Quando finalmente te chamam você pensa que agora vai ver o médico, mas nada disso. Você está indo para uma sala de espera menor, onde não tem revista.

Aí finalmente você chega ao médico. Ele mal olha na sua cara, pergunta o que você tem. Falo os sintomas e ele diz:

- Humm... é gripe.

E com um sorriso maligno nos lábios ele diz:

- Vou lhe receitar uma benzetacil, passe na enfermaria, tenha uma boa tarde. - quase soltando uma gargalhada de vilão de filme do James Bond.

Ok, benzetacil. Nunca tomei, vamos lá. Chego na sala de espera da enfermaria, várias pessoas sentadas, algumas com o pé enfaixado, outras com cara de que vão vomitar. Sento ali e aguardo.

Chega a enfermeira mais feia que já vi na minha vida e pergunta se já fui antedido. Entrego o papel e ela diz:

- Humm... você vai tomar uma benzetacil! - enquanto abre um sorriso.

Noto que as pessoas a minha volta se afastam, arrastando seus membros quebrados e vomitam, me olhando com pânico nos olhos, me senti meio apavorado.

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Ah se ela fosse assim...

Ela me manda para um quartinho, com uma mesinha de canto cheio de remédios, um banquinho e uma janela com uma barra de ferro que mais tarde eu iria descobrir para que serviria.

Estou lá esperando, quando volta a enfermeira com uma seringa na mão e diz:

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- Vamos lá tomar a injeção?

Começo a erguer a manga da camisa e ela diz:

- Não não... não é no braço, e sim na bunda. Abaixe a calça.

Peraí? Bunda? Ninguém me falou que era na bunda! Bumbum que só mamãe viu? Como assim? Mas ok, se é preciso para que essa gripe passe...

Abaixo um pouco a calça, deixando à mostra minha nádega direita.

- Não está me entendendo, é pra abaixar a calça até embaixo!

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Ok! ok... e soltei a calça até embaixo. Estou lá, calça arriada, bunda de fora, sentindo aquele ventinho gelado e olhando a paisagem quando sinto um algodão gelado tocar minha bunda. Na hora meu sentido de aranha me alertou e tranquei a bunda, ativando minhas defesas naturais contra objetos estranhos que façam contato com ela.

- Relaxa... vamos passar um algodãozinho aqui...

E acho que a enfermeira de Silent Hill gostou da minha bunda, pois essa limpada demorou mais do que deveria.

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- Pronto... vamos lá...

Nisso senti a picada na bunda, e entendi porque as pessoas temem a benzetacil. O problema não é quando a enfermeira enfia a agulha, e sim quando ela empurra o êmbolo.

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Na hora senti o líquido grosso entrando e agarrei a barra de ferro da janela, enquanto uma solitária lágrima descia do meu olho e eu implorava em meus pensamentos por uma tira de couro para impedir o grito de sair. Me senti um presidiário em sua primeira noite na cadeia.

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Depois de terminar a aplicação a enfermeira ainda deu um tapinha.

- Viu, não doeu nada.

Filha da puta! Deu vontade de pegar aquela agulha e enfiar no olho dela para que sentisse uma parcela da dor que eu estava sentido.

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Ela me mandou sentar, como se isso fosse fácil, e aguardar uma meia hora.

Por quê? Eu corria o risco de virar um mutante? Uma ereção da perna permanente? Minha bunda ia virar geléia?

Aguardei sentado de ladinho, com uma banda da bunda apenas, lendo meu livro e torcendo para que ainda pudesse andar ou cagar normalmente.

Espero não ficar doente tão cedo.

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